Lesões pelo uso frequente das telas de toque já estão ficando comuns até em crianças que usam bastante para jogos
A tecnologia avança num piscar de olhos. Telefones celulares foram diminuindo de tamanho com o tempo, associando-se a outras funções, e hoje nota-se a falta de algo: teclado. Celulares, assim como outros acessórios, como tablets e notebooks, usam a tecnologia touch screen, que em tradução livre significa tela de toque, em que o usuário toca na tela para acionar todas as funções do aparelho. Prático, porém, o uso excessivo pode causar problemas.
Basicamente o caso é o mesmo de quando há uso em demasia de computadores e notebooks, explica o ortopedista Paulo Marcel Yoshii: o tempo de digitação. “Ficar muito tempo digitando pode causar Lesão por Esforço Repetitivo (LER), tendinite (inflamações nos tendões) e também sinovite, que é uma inflamação dos tendões e da bainha que envolve os tendões.” Segundo Yoshii, os dedos mais afetados são o polegar e o indicador, os mais usados para a digitação. Outro agravante é o fato de o espaço para teclar ser pequeno. Ele lembra que esse tipo de lesão também é muito comum hoje em crianças, que têm acesso a esse tipo de aparelho cedo e usam bastante também para jogos.
Principal recomendação é reduzir uso
Para evitar problemas físicos, o fisioterapeuta Carlos Hoffmann sugere que ao usar tablets e smartphones, a pessoa apoie o aparelho sobre uma mesa alta, o que evita a inclinação da cabeça para frente e para baixo. Ao usar de pé, a orientação é segurar o aparelho com uma das mãos e manter a tela na altura no nariz, para prevenir também a projeção da cabeça.
Outra sugestão dada por ele e também pelo ortopedista Paulo Marcel Yoshii é diminuir o uso desses eletrônicos. “Não ficar digitando o tempo inteiro para evitar dores e esses problemas nas mãos”, indica Yoshii. “Faça intervalos de dez minutos a cada meia hora de uso dos tablets e procure se movimentar e alongar”, alerta Hoffmann. Ele ressalta que para quem usa esses aparelhos por mais de duas horas diárias, essas dicas são ainda mais importantes contra as dores.
Diminuir o uso desses aparelhos também é recomendado pelo oftalmologista Francisco Eugenio Campiolo, uma vez que a luz emitida pelas telas de celulares e tablets em contato com os olhos por muito tempo pode causar secura, irritação e vermelhidão. Para combater o problema, lubrificar os olhos com colírio é recomendado pelo oftalmologista.
O fisioterapeuta Carlos Hoffmann explica que quando o antebraço não está relaxado (como quando usamos esses aparelhos), os grupos musculares da coluna e dos membros superiores se contraem, o que causa tensão no local. Para ele, o fato de ter de digitar na tela faz o caso ser mais grave do que com notebooks.
Outro problema de quem mexe com esses acessórios é a postura na hora de usá-los. “Pode dar dor nas costas e no pescoço, incomodando bastante”, afirma o ortopedista Paulo Marcel Yoshii. Segundo o fisioterapeuta Carlos Hoffmann as dores causadas pelo uso prolongado das telas em posição inadequada são reclamação comum de quem tem tablets. “Após cerca de 40 minutos de inclinação do pescoço a musculatura da região cervical começa a sofrer um estresse que pode provocar dores”, explica o fisioterapeuta.
Notebooks touch screen, hoje bem mais populares, também oferecem riscos à saúde, especialmente postural, uma vez que o braço não fica apoiado para usar o teclado ou o mouse. “Como você praticamente não usa força para usar o touch screen, o que pode prejudicar é o movimento feito”, afirma o ortopedista Paulo Marcel Yoshii.
O administrador de empresas Marcelo Stuani Zanelatto, 31, tem bursite, agravada pelo uso do tablet sentado ao sofá, em posição incorreta. “Fico olhando muito para baixo, forçando muito o pescoço e agrava minha bursite. Tenho que me policiar em relação a isso”, conta.
A bursite o acompanha desde 2006 e há um ano e meio, desde que comprou o tablet, percebeu que o quadro se agravou. “Vi que toda vez que eu usava muito [o aparelho] no sofá, meu ombro doía bastante.”
Hoje o administrador não se permite ficar “plantado” no sofá e ainda faz alongamento e exercícios para o pescoço. No trabalho, Zanelatto não consegue escapar do tablet, mas diz que agora só usa em cima da mesa, na “posição ideal”.
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